Abraços - Lineu
Revoluçao no futebol brasileiro
O ex-craque Leonardo lança corajosamente uma proposta de revolução. Não só para o Flamengo mas para todo o futebol brasileiro. É hora de ouvir o que ele tem a dizer, refletir e agir. A maioria dos nossos clubes já não pode mais suportar tanta incompetência, imobilismo e/ou bandalha.
Leonardo tem idéias, tem cultura, tem experiência em gestão e é honesto.
Leonardo tem credibilidade e muita coragem. O que vimos hoje no Redação Sportv é muito mais que uma entrevista, um depoimento ou uma contribuição ao debate. O que Leonardo fez hoje no programa comandado pelo meu amigo Marcelo Barreto foi uma proposta de revolução. Quem viu só pode ter se descolado da tv abalado, pensativo, com idéias fervilhando na mente. Quem não viu deveria dar um jeito de buscar uma reprise, um vídeo na internet ou o resumo em alguma publicação. É a proposta da revolução que há muito tempo tantos de nós esperávamos.
Uma revolução não apenas para o Flamengo, mas que, a partir do clube de maior torcida do Brasil, pode ecoar em todos os cantos e, assim, recriar um cenário que parece inviável.
Para resumir: Leonardo quer que os grandes clubes do Brasil tenham donos. Assim como acontece com o Milan, o Inter de Milão, o Arsenal, o Liverpool, o Olympique de Marselha, o Manchester e quase todos os casos de sucesso hoje no futebol mundial.
Leonardo, corajosamente, propõe que o Flamengo tenha um dono. Um sujeito que analise as contas e receitas e diga: “não, isso não pode. Quem está gastando mais do que a gente ganha? Quem está jogando o mue dinheiro no lixo”? Ou ainda: “O que é isso? Nós vamos comprar doze jogadores do mesmo intermediário? Quem garante que estes caras são bons de bola mesmo? Se não derem certo quem paga o prejuízo”? E que tal: “Fulano ganha 190 mil por mês?? Quem foi o louco que propôs este salário a um jogador que não rende nada”? Eu ainda poderia lembrar aqui: “O que? O nosso gerente assinou um contrato de dois anos com o treinador que ele acaba de demitir? E isso significa que nós ainda vamos ter que pagar 16 meses de altos salários a um profissional que não trabalha mais no clube? Para a rua com este gerente”.
Resumidamente e, obviamente simplificando um bocado, é isso.
Todas estas questões soam familiares ao seu clube do coração? Pois é. Salvo duas ou três exceções - não passa disso mesmo! Não vamos aqui nos iludir nem sermos apaixonados ou desinformados. A verdade é que 99% dos nossos clubes têm - em maior ou menor proporção - sérios problemas financeiros e de gestão. Por que? Porque evidentemente estão amarrados a um sistema morto. Estão abraçados a um cadáver gerencial. Estão presos por garras administrativas que não podem levar os clubes a outro lugar senão ao buraco e ao genuflexório dos diretores de bancos. Até quando?
O Flamengo é um caso evidente mas a praga está espalhada por todos os lados (e o próprio presidente do Corinthians, por exemplo, teve a maravilhosa atitude de telefonar ao programa para trocar idéias e chamar o Léo para uma conversa mais detalhada). Não é uma questão de fulano, beltrano, de Arranca-toco F.C. ou de E.C. Arimatéia. É um sistema. Um modelo que leva ao imobilismo, à corrupção, à irresponsabilidade e à ineficiência.
Acho que todos deveriam ver a íntegra da entrevista, mas tentarei aqui resumir algumas das idéias trazidas pelo Leonardo (que o Léo, por favor, me corrija se eu me enganar em algo):
1) Em experiências recentes já temos casos de “privatização” velada em clubes brasileiros. A Parmalat foi praticamente dona de um vitorioso Palmeiras na década passada, a Unimed é praticamente dona do Fluminense, que, apesar de tropeços, foi campeão do Brasil e vice da Libertadores. Nada mal para quem andava pela série C.
O problema é que por serem apenas “praticamente”, estes donos fazem serviço incompleto. São amarrados por cartolas amadores, conselheiros que amam o clube mas desconhecem o be-a-bá de gestão moderna e do marketing… Mas pior de tudo: por saberem que não sao, de fato, donas dos clubes, estas empresas pensam apenas no imediato e ficam sempre prontas para sair sem prejuízos. Normal. Ninguém é trouxa e rasga dinheiro.
2) Investidores, no sistema atual de gestão, vão acabar do mesmo modo que a ISL no Fla, o Bank of America no Vasco e a MSI no Corinthians. As torneiras de grana serão abertas, trarão resultado breve, mas logo as bocas do desperdício e das “tenebrosas transações” estarão novamente sedentas por mais capital. As empresas vão perder tudo e ao clube não restará nada, senão mais dívidas e problemas. O modelo, mesmo com algum resultado imediato, acaba só convidando ao ilícito e/ou ao gasto bizarro.
3) Independentemente do proprietário, o verdadeiro dono do clube vai ser sempre a torcida. Se João da Silva for dono do Flamengo, ele que não forme um time a altura para ver só uma coisa… Ou então ele que transforme o clube apenas em um bibelô de sua vaidade e de seu esnobismo… Você acha que a torcida aceitará isso passivamente? Você acha que o Berlusconi é louco de vender o Kaká, exceto em caso extremo e indiscutível? Será que os donos do Manchester um dia vão vender todo mundo, realizar o lucro e isso vai ficar por isso mesmo? É ruim hein.
4) Pior do que está não fica. O Flamengo, por exemplo, já está efetivamente vendido, só não se sabe para quem. Até os aparelhos de telefone estão penhorados. Cada tijolo da sede já pertence a um credor. E tudo isso sem a menor perspectiva de reversão. Os senhores do conselho, berrando sobre a tradição em poemas parnasianos, na verdade, não gerenciam nada. Nada mais ali é do Flamengo. A banda realmente vai querer ficar tocando enquanto o Titanic afunda? Será que isso é a dignidade, o belo, é valorizar as tradições seculares…? Isso é zelar pela honra do clube?
5) Sistemas mistos, como os do Barça e do Madrid - inegavelmente casos de sucesso em plena era do futebol-business - só se sustentam com apoio governamental. Como pode a economia da Espanha, que tem quase um terço do PIB alemão, sustentar clubes mais ricos que os fãs de Beckenbauer? Ainda mais, como no caso do Barcelona, sem publicidade nas camisas… Ora, com impostos reduzidos. Ou seja: a “viúva”, na verdade, paga a conta!
Para que Henry jogue no Barça e não no Bayern, o governo espanhol aceita receber apenas a metade dos impostos sobre os ganhos do jogador. O governo alemão não concorda com isso e o boleirão de Munique fica sem o Messi.
Ou ainda: a prefeitura de Madri, por exemplo, deu mais de 300 milhões de euros para o Real. Comprou o CT do clube, financiou a era galáctica e ainda deixou que os merengues seguissem usando o terreno por mais algumas décadas. Será que o Estado brasileiro pode e deve fazer o mesmo? Será que, entre mares de favelas e hospitais públicos ruindo, o governo deve bancar os astros da bola? Acho que não.
6) Seria, na opinião de alguns, uma ofensa aos que viveram e construiram os clubes, agora darmos estas insituições ”de bandeja” a alguém. Quem teria este direito? Quem ousaria meter as mãos nos mantos sagrados?
Tá certo, é esquisito em um primeiro olhar, mas posso fazer uma perguntinha: e hoje (na verdade desde qjue o dinheiro entrou no futebol) quem mete as mãos nos nossos mantos sagrados? Quem gere as contas, quem fecha os balanços, quem negocia com agentes de jogadores, quem sabe de contas nos paraísos fiscais, quem deixa milhões de dívidas ao fim do mandato e vai tranquilamente para casa, assobiando, como se não tivessa nada com isso?
Sinceramente? É melhor que o clube tenha um nome e um sobrenome do que os atuais monstros sem cara, sem alma, sem culpa.
Enfim, Leonardo pode não estar certo em todos os pontos (e ele é o primeiro a dizer isso). Certamente que o cara não é perfeito, não é um messias, está longe de ser o sabe-tudo. Mas é uma pessoa com conhecimento, capacidade e coragem para propor a revolução que pode salvar o nosso futebol.
Ou alguém prefere acreditar no destino e em uma eterna vocação para o fracasso e a badalha?
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