terça-feira, novembro 18, 2008

Você é tolerante a religião alheia???

No último livro que li – Cartas Persas I, Montesquieu – muita coisa interessante é narrada ao discorrer das 78 cartas enviadas, uns aos outros, pelos personagens. O livro fala sobre mulçumanos que viajam ao coração da Europa cristã do século 18, onde o primeiro impacto aos viajantes é a religião. Os personagens analisam e discutem os costumes, a política, etc..., enfim, tudo que seja diferente as regras de sua cultura.
Como já disse, o livro é carregado de confrontos entre paradigmas ocidentais e orientais, mas a leitura de uma das cartas é muito apropriada às pessoas intolerantes as religiões dos outros.

CARTA 46 – USBEK a RHEDI

Aqui vejo pessoas que discutem interminavelmente sobre religião, mas parece que combatem ao mesmo tempo para quem as observar superficialmente. Esses homens não são somente melhores cristãos, mas nem mesmo melhores cidadãos; e é isso que me toca, pois, em qualquer religião que se viva, a observância das leis, o amor para com os homens, a piedade para com os pais são sempre os primeiros atos de religião.

Com efeito, o primeiro objetivo de um homem religioso não deve ser de agradar a divindade que estabeleceu a religião que ele professa? Mas o meio mais seguro pra chegar a isso é sem dúvida observar as normas da sociedade e os deveres de humanidade. De fato, em qualquer religião que se viva, desde que suponha uma, deve-se realmente supor também que Deus ama os homens, porquanto estabeleceu uma religião para torná-los felizes; se ele ama os homens, tem certeza de agradá-lo ao amá-los também. Isto é, exercendo para com eles todos os deveres de caridade e da humanidade e não violando as leis sob as quais vivem. Com isso, estamos certos de agradar a Deus, mais que observando essa ou aquela cerimônia, pois as cerimônias não têm um grau de bondade por si mesma; não são boas senão com relação e na suposição que Deus as tenha ordenado. Mas é um tema para grandes discussões; podemos nos enganar facilmente a respeito, pois é preciso escolher as cerimônias de uma religião entre as de duas mil.

Um homem fazia todos os dias esta oração a Deus: “Senhor, nada entendo das discussões que sem cessar se produzem a seu respeito; gostaria de te servir segundo tua vontade, mas todos aqueles que consulto querem que eu te sirva a maneira deles. Quando quero te dirigir minha oração, não sei em que língua devo falar. Tão pouco sei que postura devo tomar: uns dizem que devo orar de pé; outro quer que fique sentado; outro exige que meu corpo se ponha de joelhos. Isso não é tudo. Há quem determina que eu devo me lavar todas as manhãs com água fria; outros sustentam que me olharias com horror, se não mandasse cortar um pequeno pedaço de minha carne. Outro dia me aconteceu que comi um coelho num cavançará e três homens que estavam perto me deixaram tremendo. Os três afirmaram que havia te ofendido gravemente, um judeu disse que esse animal era impuro, um turco me disse que era porque havia sido sufocado e um armênio porque não era peixe. Um brâmane que passava por lá e ao qual pedi que fosse o juiz da questão, me disse: “Não tem razão porque, pelo que me parece, não mataste o animal”. Fui eu quem matou sim, lhe disse. “Ah! Cometeste uma ação abominável, retrucou com voz severa, e Deus não te perdoará nunca, pois quem sabe se a alma de seu pai não tinha passado para esse animal?

Todas essas coisas, senhor, me deixam numa confusão insuperável. Não posso mover a cabeça, que estou prestes a te ofender, entretanto, gostaria de te agradar e empregar apara tanto a vida que de ti recebi. Não sei se me engano, mas acredito que o melhor meio para chegar a isso é viver como bom cidadão na sociedade que me fizeste nascer e como bom pai na família que me deste."

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu querido amigo:
Esta é realmente a Grande Questão!
Precisamos de orientações religiosas que nos levem verdadeiramente a nos tornar seres humanos melhores. Muitas vezes podemos evoluir humana e espiritualmente conversando com pessoas mais evoluídas e lendo, lendo... até despertarmos a nossa Consciência para e Elevação!