Muito se tem discutido e escrito sobre a questão da secularização/dessecularização, sobre o declínio da religião, sua “mercadorização”, sua privatização, enfim sobre sua perda de importância versus a sua retomada, a “revanche de Deus”, como muitos autores têm designado o fenômeno de explosão de novos movimentos religiosos.
Enquanto o pensamento clássico marxista afirma o fim da religião, as interpretações atuais afirmam a substituição de uma situação inicial de monopólio por uma situação de pluralismo, em que a religião perde seu papel moralizador, transformando-se em atitude pragmática. A religião perderia, nessas visões contemporâneas, o papel de aglutinadora e moralizadora da sociedade.
O surgimento dessas novas religiosidades (não-tradicionais) se explica pelo próprio avanço do processo de secularização, pois são as expressões de um declínio geral do compromisso religioso. Esses novos movimentos representariam, tão somente a redução da religião a mais um item de consumo. Transformada em item de consumo, a religião passa a restringir-se à esfera individual.
Flavio Pierucci faz entender a secularização enquanto a passagem de uma situação de monopólio/hegemonia de uma única religião para uma situação de pluralismo religioso. No artigo que escreveu para o jornal Folha de SP em dezembro de 2000, afirma que pode-se até falar em reencantamento, em ressurgimento da religião a partir desse pluralismo, mas apenas no sentido de uma “remagificação” do campo religioso, sem é claro deixar de atentar para a lógica mercadológica que os bens de salvação adquiriram.
Adentrando aos preceitos legais do Código de defesa do Consumidor, quem causa danos a uma pessoa deve, pela lei, responder e arcar com os danos causados. Na relação de consumo não são apenas os danos materiais que interessam. Interessa também a frustração do consumidor quanto à sua legítima expectativa relativa ao bem ou serviço contratado do fornecedor. Além disso, a lei prevê expressamente que os danos não se restringem aos danos materiais, abrindo caminho para reclamações de danos morais das mais variadas.
O desejo de consumo reproduz-se segundo a estruturação social. Esta está sempre em constante movimentação e interage com as construções de natureza ideológica e com suas relações – representações mentais -, mesmo que distorcidas, da materialidade social. Nestor Garcia Canclini considerou o consumo como uma das dimensões do processo de comunicação, relacionando-o com práticas e apropriações culturais dos diversos sujeitos envolvidos neste sistema. Afirmou que por meio dele os sujeitos transmitem mensagens aos grupos sócio-culturais dos quais fazem parte.
Segundo Canclini, o consumo não deveria ser visto somente como uma posse de objetos isolados, mas também como “apropriação coletiva” destes. Este processo consideraria relações de solidariedade e, principalmente, de distinção, através de bens e mercadorias que satisfazem no plano biológico e no simbólico, servindo também para enviar e receber mensagens.
Pode-se dizer que as relações estabelecidas entre as partes envolvidas não se efetuam de modo mecanicista. Trata-se de uma interação dialética entre os grupos sócio-culturais dominantes e que seria mantido e revisto a partir de negociações e do aceite dos grupos subalternos. A imposição estabelecida pelo grupo dominante de propor um projeto intelectual para todo o conjunto social, não é factível somente a partir do seu poder coercitivo, mas principalmente através do consentimento dos grupos subordinados. Este processo resultaria em representações mentais sobre o problema, que também estariam inseridas no jogo social.
A IMAGEM DO SAGRADO NO BRASIL
Qual significado da religião no dia-a-dia do brasileiro? Até que ponto a fidelidade e o respeito ao sagrado existem? Se o Brasil é o maior país católico do mundo, por que a Igreja tem perdido força e representatividade nas esferas de poder? É certo que a história não tem resposta para todas as perguntas, até pela complexidade do tema, mas a partir de uma avaliação mais profunda é possível perceber que a relação das pessoas com a religiosidade em pleno início do século XXI difere – e muito – dessa mesma relação, por exemplo, na segunda metade do século XIX.
Para compreender o processo que resultou na perda do monopólio da Igreja e na transformação do sagrado em produto de consumo, o sociólogo Gilson Ciarallo transformou o assunto em objeto da tese de doutorado A secularização do Brasil. Autonomização, pluralização e privatização da religião. A pesquisa foi orientada pelo professor Caetano Ernesto Pereira de Araújo e defendida em março de 2005, no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB).
A partir de uma vasta busca bibliográfica, necessária à reconstrução histórica e à releitura do que motivou a mudança do poder católico na sociedade brasileira, são identificadas as principais transformações ocorridas até a consolidação do que hoje representa a religião. O princípio do questionamento da pesquisa foi à teoria da secularização, ou seja, a desvinculação da Igreja em relação às outras esferas, a perda de modelos tradicionais de valor e autoridade.
Na sua opinião, a religião restringiu-se a sua própria esfera e já não exerce a influência que exercia sobre o Estado, a educação etc. Além disso, houve um aumento significativo na quantidade de novas igrejas de outras religiões, responsáveis por administrar o sagrado. Um processo que começou a ser percebido a partir da segunda metade do século XIX, com a disseminação de outras comunidades cristãs, como luteranos, batistas, anglicanos e presbiterianos.
Outra característica cada vez mais marcante na evolução identificada no estudo do sociólogo é o que chamou de privatização – a religião vivida pelo próprio indivíduo e o tratamento dado a ela como um serviço, um bem de consumo. “As pessoas revelam uma tendência a buscar a religião que oferece melhores chances de obtenção de benefícios, milagres ou graças”.
Evidencia-se uma mistura de práticas religiosas que tornam normal a freqüência simultânea em igrejas, terreiros umbandistas e templos esotéricos. “É resultado da superoferta do produto religioso”, comenta. Uma prova concreta disso é a readequação dos institutos de pesquisa, que têm sido obrigados a ampliar a quantidade de opções para identificar a religião dos entrevistados, inclusive o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No que diz respeito à predominância católica, por exemplo, os censos demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 comprovam reduções significativas. De 1980 a 1991, católicos perdem 5,7 pontos percentuais, enquanto evangélicos aumentam 2,4. Nos dados de 2000, a tendência é reforçada: católicos perdem 9,4 pontos em relação a 1991, passando a representar 73,9% da população, enquanto evangélicos aumentam 6,6 pontos, atingindo 15,6% da população – um percentual que, em 1991, não passava de 9%. Em valores absolutos, eles passaram de 13 milhões em 1991 para 26 milhões em 2000. Números estes que reforçam a tese do processo de perda de espaço da religião tradicional, decorrente da secularização.
Enquanto o pensamento clássico marxista afirma o fim da religião, as interpretações atuais afirmam a substituição de uma situação inicial de monopólio por uma situação de pluralismo, em que a religião perde seu papel moralizador, transformando-se em atitude pragmática. A religião perderia, nessas visões contemporâneas, o papel de aglutinadora e moralizadora da sociedade.
O surgimento dessas novas religiosidades (não-tradicionais) se explica pelo próprio avanço do processo de secularização, pois são as expressões de um declínio geral do compromisso religioso. Esses novos movimentos representariam, tão somente a redução da religião a mais um item de consumo. Transformada em item de consumo, a religião passa a restringir-se à esfera individual.
Flavio Pierucci faz entender a secularização enquanto a passagem de uma situação de monopólio/hegemonia de uma única religião para uma situação de pluralismo religioso. No artigo que escreveu para o jornal Folha de SP em dezembro de 2000, afirma que pode-se até falar em reencantamento, em ressurgimento da religião a partir desse pluralismo, mas apenas no sentido de uma “remagificação” do campo religioso, sem é claro deixar de atentar para a lógica mercadológica que os bens de salvação adquiriram.
Adentrando aos preceitos legais do Código de defesa do Consumidor, quem causa danos a uma pessoa deve, pela lei, responder e arcar com os danos causados. Na relação de consumo não são apenas os danos materiais que interessam. Interessa também a frustração do consumidor quanto à sua legítima expectativa relativa ao bem ou serviço contratado do fornecedor. Além disso, a lei prevê expressamente que os danos não se restringem aos danos materiais, abrindo caminho para reclamações de danos morais das mais variadas.
O desejo de consumo reproduz-se segundo a estruturação social. Esta está sempre em constante movimentação e interage com as construções de natureza ideológica e com suas relações – representações mentais -, mesmo que distorcidas, da materialidade social. Nestor Garcia Canclini considerou o consumo como uma das dimensões do processo de comunicação, relacionando-o com práticas e apropriações culturais dos diversos sujeitos envolvidos neste sistema. Afirmou que por meio dele os sujeitos transmitem mensagens aos grupos sócio-culturais dos quais fazem parte.
Segundo Canclini, o consumo não deveria ser visto somente como uma posse de objetos isolados, mas também como “apropriação coletiva” destes. Este processo consideraria relações de solidariedade e, principalmente, de distinção, através de bens e mercadorias que satisfazem no plano biológico e no simbólico, servindo também para enviar e receber mensagens.
Pode-se dizer que as relações estabelecidas entre as partes envolvidas não se efetuam de modo mecanicista. Trata-se de uma interação dialética entre os grupos sócio-culturais dominantes e que seria mantido e revisto a partir de negociações e do aceite dos grupos subalternos. A imposição estabelecida pelo grupo dominante de propor um projeto intelectual para todo o conjunto social, não é factível somente a partir do seu poder coercitivo, mas principalmente através do consentimento dos grupos subordinados. Este processo resultaria em representações mentais sobre o problema, que também estariam inseridas no jogo social.
A IMAGEM DO SAGRADO NO BRASIL
Qual significado da religião no dia-a-dia do brasileiro? Até que ponto a fidelidade e o respeito ao sagrado existem? Se o Brasil é o maior país católico do mundo, por que a Igreja tem perdido força e representatividade nas esferas de poder? É certo que a história não tem resposta para todas as perguntas, até pela complexidade do tema, mas a partir de uma avaliação mais profunda é possível perceber que a relação das pessoas com a religiosidade em pleno início do século XXI difere – e muito – dessa mesma relação, por exemplo, na segunda metade do século XIX.
Para compreender o processo que resultou na perda do monopólio da Igreja e na transformação do sagrado em produto de consumo, o sociólogo Gilson Ciarallo transformou o assunto em objeto da tese de doutorado A secularização do Brasil. Autonomização, pluralização e privatização da religião. A pesquisa foi orientada pelo professor Caetano Ernesto Pereira de Araújo e defendida em março de 2005, no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB).
A partir de uma vasta busca bibliográfica, necessária à reconstrução histórica e à releitura do que motivou a mudança do poder católico na sociedade brasileira, são identificadas as principais transformações ocorridas até a consolidação do que hoje representa a religião. O princípio do questionamento da pesquisa foi à teoria da secularização, ou seja, a desvinculação da Igreja em relação às outras esferas, a perda de modelos tradicionais de valor e autoridade.
Na sua opinião, a religião restringiu-se a sua própria esfera e já não exerce a influência que exercia sobre o Estado, a educação etc. Além disso, houve um aumento significativo na quantidade de novas igrejas de outras religiões, responsáveis por administrar o sagrado. Um processo que começou a ser percebido a partir da segunda metade do século XIX, com a disseminação de outras comunidades cristãs, como luteranos, batistas, anglicanos e presbiterianos.
Outra característica cada vez mais marcante na evolução identificada no estudo do sociólogo é o que chamou de privatização – a religião vivida pelo próprio indivíduo e o tratamento dado a ela como um serviço, um bem de consumo. “As pessoas revelam uma tendência a buscar a religião que oferece melhores chances de obtenção de benefícios, milagres ou graças”.
Evidencia-se uma mistura de práticas religiosas que tornam normal a freqüência simultânea em igrejas, terreiros umbandistas e templos esotéricos. “É resultado da superoferta do produto religioso”, comenta. Uma prova concreta disso é a readequação dos institutos de pesquisa, que têm sido obrigados a ampliar a quantidade de opções para identificar a religião dos entrevistados, inclusive o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No que diz respeito à predominância católica, por exemplo, os censos demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000 comprovam reduções significativas. De 1980 a 1991, católicos perdem 5,7 pontos percentuais, enquanto evangélicos aumentam 2,4. Nos dados de 2000, a tendência é reforçada: católicos perdem 9,4 pontos em relação a 1991, passando a representar 73,9% da população, enquanto evangélicos aumentam 6,6 pontos, atingindo 15,6% da população – um percentual que, em 1991, não passava de 9%. Em valores absolutos, eles passaram de 13 milhões em 1991 para 26 milhões em 2000. Números estes que reforçam a tese do processo de perda de espaço da religião tradicional, decorrente da secularização.
Entende-se, também, o consumo de bens da fé, muito presente em propostas religiosas fundamentalistas e pragmáticas que estabelecem com a divindade um "espaço de troca" material, onde o fiel/cliente entra com sua parte, seja em forma de "promessas", de oferta de objetos ou dinheiro e a divindade é "pressionada" a responder com o "milagre" (bom emprego, saúde, dinheiro, sorte no namoro ou no jogo), sempre com base na teoria bíblica do cem por um ou do "franciscano" do ut des... É dando que se recebe!. Os adeptos desta forma de expressão religiosa geralmente cultuam uma divindade e também não valorizam a dimensão histórica de uma instituição eclesial. O que importa para estes crentes é que a "igreja" responda, aqui e agora, às suas necessidades tópicas de felicidade imediata.
Ao consumirem os “bens simbólicos” oferecidos pelas “benzedeiras modernas”, além de desejarem que o “seu mundo” seja cada vez melhor, despertam nas pessoas, através do consumo de bens mágico-religiosos, fantasias, emoções, desejo e admiração. Através dele, sua imaginação é constantemente nutrida, realimentando, por sua vez, o consumo variado e freqüente de “serviços” mágico-espirituais.
BIBLIOGRAFIA
CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1999.
GERMINIANI, Haudrey. * Profissionais do sagrado: religião, magia e consumo. (Pierucci, Folha de São Paulo, caderno Mais!, 30/12/2000).
http://www.uff.br/mestcii/renata2.htm
http://www.unb.br/acs/bcopauta/sociologia8.htm
http://www.interthesis.cfh.ufsc.br/interthesis4/artigo3_22.pdf
Ao consumirem os “bens simbólicos” oferecidos pelas “benzedeiras modernas”, além de desejarem que o “seu mundo” seja cada vez melhor, despertam nas pessoas, através do consumo de bens mágico-religiosos, fantasias, emoções, desejo e admiração. Através dele, sua imaginação é constantemente nutrida, realimentando, por sua vez, o consumo variado e freqüente de “serviços” mágico-espirituais.
BIBLIOGRAFIA
CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1999.
GERMINIANI, Haudrey. * Profissionais do sagrado: religião, magia e consumo. (Pierucci, Folha de São Paulo, caderno Mais!, 30/12/2000).
http://www.uff.br/mestcii/renata2.htm
http://www.unb.br/acs/bcopauta/sociologia8.htm
http://www.interthesis.cfh.ufsc.br/interthesis4/artigo3_22.pdf
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